É de todos conhecida a sensibilidade particular dos asmáticos a alguns tipos de medicamentos. É um lugar comum dizer-se que os asmáticos não devem tomar Aspirina ou seus derivados. No entanto alguma verdade tem que ser reposta quanto a este problema. É verdade que existe um sub-grupo de doentes asmáticos que têm agravamento após tomarem aspirina e outros fármacos do grupo dos anti-inflamatórios não esteróides (vulgarmente designados por AINES). Este tipo particular de asma, ou síndromo, em que há sensibilidade à aspirina é designada como Asma Induzida por Aspirina (A.I.A.) e afecta cerca de 10% dos asmáticos adultos sendo muito rara nas crianças. A ingestão de Aspirina e outros AINES pode originar sintomas nasais, espasmo da laringe e broncoespasmo em doentes com rinosinusite e asma.
Na maioria dos doentes com Asma Induzida por Aspirina (A.I.A.) os sintomas começam durante a 3ª década de vida na forma de rinite grave. Durante um período de meses, desenvolve-se uma rinorreia crónica com obstrução nasal persistente. Nesta altura o exame do nariz revela a presença de pólipos nasais. A asma brônquica e a intolerância à aspirina surgem em média nos 4 anos seguintes.
A intolerância à aspirina manifesta-se como um quadro clínico característico. Normalmente cerca de uma hora após a ingestão do fármaco surge um ataque de asma, muitas vezes acompanhado de rinorreia, irritação conjuntival e rubor marcado da face e pescoço.
A aspirina pode desencadear crises graves, às vezes fatais. As crises podem ser desencadeadas não só pela aspirina mas também por outro tipo de fármacos utilizados para tratamento da dor e febre, que têm de comum com a aspirina o mesmo mecanismo de acção (inibição da cicloxigenase).
Na maioria dos doentes, desde que se estabelece a intolerância à aspirina ela mantem-se toda a vida. A maioria destes doentes tem asma moderada ou grave. No sentido de prevenir as crises graves de asma, estes doentes devem evitar Aspirina, produtos contendo aspirina e outros analgésicos inibidores da cicloxigenase. Deve ser fornecido ao doente uma lista dos fármacos que estão contra-indicados no seu caso e de preferência onde conste o nome genérico e comercial do medicamento.
Se necessário, os doentes podem tomar com alguma segurança o Paracetamol sendo aconselhável não exceder doses de 1000mg no ínicio do tratamento. As reacções ao paracetamol são raras nestes doentes embora estejam também descritas algumas reacções graves. Apesar de cuidados especiais com a medicação, estes doentes são estão condenados a sofrer em silêncio dores muitas vezes violentas associadas a patologia osteoarticular degenerativa, doença reumatoide ou cefaleias recorrentes ou verem-se impossibilitados de terapêutica de prevenção da doença cardíaca isquémica. Na verdade, existe a possibilidade de administrar a estes doentes, analgésicos potentes e até mesmo aspirina sem risco, desde que se induza no doente, em regime de internamento hospitalar e com vigilância médica especializada, o chamado estado de tolerância. Esta situação consegue-se por um processo designado por "dessensibilização" e implica a toma de doses progressivamente crescentes do fármaco durante dois ou três dias até que a dose terapêutica seja tolerada.
O fármaco poderá então ser administrado em doses terapêuticas diárias.